01.06.2019

À conversa com Arq.º Tomás Rebelo de Andrade

01.06.2019

À conversa com Arq.º Tomás Rebelo de Andrade

“A questão das crises cíclicas que têm vindo a ocorrer têm feito mossas muito grandes, difíceis de compensar nas alturas de “vacas gordas”, que também são cíclicas e levam invariavelmente à próxima crise”.

Desde 1991 que se mantém como sócio principal do CAS Arquitectos, com o arq. Jorge Garcia Simões. Como tem evoluído o atelier ao longo destes anos todos? O que mudou na vossa forma de encarar e fazer arquitectura?

A forma de encarar a arquitectura não mudou. Simplesmente adaptou-se às novas regras de mercado. Queremos com isto dizer que, com as crises pelas quais já passámos desde 1991, fomos obrigados a rentabilizar melhor as estruturas fixas do atelier e meios de produção. Por outro lado, com a experiência adquirida ao longo dos anos aumentaram as preocupações na gestão da relação custo versus qualidade das obras e projectos que temos vindo a elaborar.

Têm como prática quotidiana discutir ideias e tendem sempre a descomplicar as soluções. Em que medida os colaboradores mais recentes trazem ideias diferentes a estes debates? Está a ser feito um bom trabalho nas faculdades de arquitectura?

Considero que, tal como sempre, a faculdade ensina a aprender. Todos os estagiários que aceitámos foram escolhidos mais pelo seu perfil pessoal do que pelo perfil académico pois as diferenças de curriculum académico entre os candidatos são mínimas. As diferenças e os factores de selecção são-no relativamente à postura perante a vida, às actividades extracurriculares, ao que fazem para além dos estudos. À capacidade e vontade de aprender, à postura perante a equipa e à forma como reagem perante as dificuldades e imprevistos. Esta filosofia tem, de facto, provas dadas pois todos os estagiários que cumpriam estes requisitos ficaram a contrato após o estágio. Depois, naturalmente foram saindo por vontade própria e outros vieram. Mas é preferível formar bons profissionais que acabam por ir embora do que ter maus, que ficam… A grande maior valia está na visão fresca que os novos trazem, nos conhecimentos informáticos e na destreza que apresentam, tudo isto aliado à grande vontade que têm de aprender e contribuir para a qualidade do trabalho.

Em Fevereiro de 2012 já vos fiz uma entrevista para a Artes&Letras. Na altura disseram que era “cada vez mais difícil fazer arquitectura devido à falta de meios financeiros, à falta de tempo, à legislação apertada…”. O que é que mudou nestes 7 anos?

Em relação à parte financeira, tal como já referimos, tivemos que crescer e adaptarmos às novas regras de mercado, sem nunca perder de vista a qualidade do trabalho. Continua a haver arquitectura muito boa tanto cara como de custos controlados. No que se refere à legislação, cada vez há mais condicionantes e regras, muitas delas incompatíveis umas com as outras. As Câmaras Municipais continuam um caos, sem meios humanos ou vontade de ser positivas, na sua maioria. Continua sem haver uma homogeneização dos procedimentos, ficando à arbitrariedade de cada Câmara a forma e modo de apresentação dos projectos. Seria muito mais simples e produtivo obrigar as Câmaras a aceitar os projectos segundo uma norma única e inalterável, baseada num formato perfeitamente claro, objectivo e de fácil interpretação. Mas isso iria criar facilidades que não interessam a muita gente pois com isto acabariam as ambiguidades. É que, como todos sabemos, na apreciação dos projectos e nos pareceres aos mesmos, há “uns arquitectos” e há “os outros…”…

Têm feito projectos muito diversificados, desde equipamentos de saúde, a projectos de cariz social. Quer destacar alguns mais desafiantes?

É sempre gratificante fazer projectos de cariz social e mais ainda quando se consegue aplicar a nossa arquitectura e a forma como a vemos. Neste campo, tivemos a felicidade de fazer alguns, dos quais destacamos os dois Centros de Saúde de Odivelas: A Unidade de Saúde Familiar da Póvoa de Santo Adrião e a da Ramada, (tendo este último merecido o Prémio Municipal de Arquitectura de Espaço Público em 2015), bem como a Igreja, Centro Paroquial e Social de Porto Salvo.

A Betar tem sido uma boa parceria?

Sorrio a esta pergunta! Trabalhamos com a BETAR desde 1994 e temos vários projectos em curso e várias propostas elaboradas em conjunto. É preciso dizer mais alguma coisa?!

Em 2012 disse-me que tinha feito uns 30 projectos para uma casa para si, mas que estavam todos na gaveta. Já concretizou esse projecto?

Não. Apesar de achar que já tenho a solução que consegue aliar todos os aspectos que “colidiam” nos primeiros 30 estudo, não há condições para brincadeiras desta natureza. A questão das crises cíclicas que têm vindo a ocorrer têm feito mossas muito grandes, difíceis de compensar nas alturas de “vacas gordas”, que também são cíclicas e levam invariavelmente à próxima crise.

Em que sentido caminha o atelier? O que têm em mente para o futuro?

Continuar a trabalhar, mantendo uma estrutura reduzida mas funcional, tentando ser fiéis aos princípios e ao modo de trabalhar e forma de ver a arquitectura que temos tido ao longo destes anos, sem perder de vista a preparação para nos defendermos da próxima crise que se apresenta cada vez mais próxima…

Esta entrevista é parte integrante da Revista Artes & Letras #109, de Junho de 2019

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