31.08.2022

À conversa com Engº Jorge Pereira

31.08.2022

À conversa com Engº Jorge Pereira

'A VR1 é uma estrada (...) construída numa orografia acidentada. Cerca de 70% da nossa infraestrutura é, grosso modo, em ponte ou em túnel e isso distingue-nos da generalidade das concessões'

Fale-nos um pouco do seu percurso.

Nasci no Funchal e licenciei-me em Engenharia Civil, opção de Hidráulica, na Universidade de Coimbra, em 1983. Comecei a trabalhar logo em seguida nas “águas” da Câmara do Funchal. Havia muita falta de engenheiros. Fiz um mestrado em Hidráulica e Gestão de Recurso Hídricos do Técnico, em Lisboa, e depois iniciei o doutoramento. Ia o doutoramento a meio, em 1989, quando tive a oportunidade de ir em substituição como Deputado para a Assembleia da República. Deu cabo do doutoramento mas foi uma espécie de segundo curso, também de vida. Em 1991, o Dr. Alberto João convidou-me a presidir ao Instituto de Gestão da Água (IGA) da Madeira. Voltei em permanência para a Região e, durante cerca de 10 anos, dei o meu melhor, para criar e consolidar, a partir do zero, um organismo que gerisse de forma integrada as águas da Região. Orgulho-me muito do trabalho que fizemos, de interligação de origens de água, de novas captações subterrâneas, de melhoria da qualidade da água de consumo humano e respectivo controlo. A certa altura comecei a admitir mudar de vida. E foi isso que sucedeu quando me convidaram para ir gerir a VIALITORAL. Ainda não tive oportunidade para retomar o doutoramento. Estou há mais de 20 anos a gerir estradas e a leccionar “Transportes e Vias de Comunicação”, na UMA, há mais de 10.

A VIALITORAL é responsável pela exploração e manutenção da mais importante via rápida da Madeira, desde 2000. Pode falar um pouco das particularidades da infra-estrutura?

Trata-se da primeira Concessionária SCUT a operar em Portugal, com o direito a explorar a estrada por 25 anos. Esse direito teve por contrapartida um pagamento, nos termos de um exigente contrato, o dever de a conservar e, no fim, de a devolver em condições invejáveis para o padrão habitual da rede rodoviária nacional. Mais, poderemos vir a ser a primeira concessionária nacional a passar por um processo de reversão da infra-estrutura, pois aproxima-se a data prevista para termo do nosso contrato, Janeiro de 2025. Quanto aos estados de manutenção e conservação do que nos está concessionado, particularmente em matéria de obras de arte e túneis, a BETAR estará até, porventura, em melhores condições do que eu, para atestar em que nível nos situamos, num “ranking” comparativo. Não tememos comparações. No plano das características da infra-estrutura também somos singulares. Em termos gerais, a VR1 é uma estrada com 44 km de extensão com duas faixas unidireccionais, cada uma com duas vias, literalmente construída numa orografia acidentada. Daí conter uma excepcional densidade de túneis e obras de arte. Desde 2017, 7 dos 44 km da VR1 foram devolvidos à gestão pública. Temos, contudo, ainda concessionados cerca de 30 túneis e 14 dezenas de Obras de Arte em ponte, viaduto ou em PI´s. Ou seja, cerca de 70% da nossa infra-estrutura é, grosso modo, em ponte ou em túnel e isso distingue-nos da generalidade das concessões. Quer a exploração quer a conservação, por quilómetro de estrada, são necessariamente mais exigentes e caras.

Quais as suas principais funções na VIALITORAL?

Como Director Geral tento gerir a empresa num quadro de confiança, organização, disciplina, profissionalismo, exigência, empenho, entusiasmo e respeito por todos os envolvidos. Funcionamos como equipa e temos sido minimamente bem-sucedidos. Tenho muito orgulho no empenho do nosso pessoal. Depois há provas de uma grande confiança depositada em nós pelos accionistas e, há que reconhecer, pela própria Concedente, o que muito agradecemos. Isso permite-nos autonomia de decisão e programar as acções a maior prazo, para cumprir com o nosso compromisso. Em matéria de segurança na circulação dos utentes afirmamos ser uma prioridade da concessionária e estamos descansados com o estado da nossa infra-estrutura. A redução da sinistralidade rodoviária na nossa estrada é um objectivo permanente. A nossa estrada é muito difícil e quando os indicadores se degradam reprogramamos investimentos pois, como é sabido, pavimentos de qualidade trazem menor sinistralidade.

Desde o início da concessão que a BETAR presta apoio na gestão e inspecção do significativo número de obras de arte, bem como na assessoria e acompanhamento técnico na área das pontes. Em que medida a BETAR tem contribuído para os vossos objectivos?

A BETAR é um parceiro da primeira hora e um pilar em quem confiamos. É uma empresa com conhecimento e cada vez com mais mundo, e isso ajuda. Como também está envolvida em como fazer, não intervém simplesmente a dizer o que está mal feito. Em mais de 20 anos, tivemos boas e más horas, na nossa infra-estrutura, incluindo a necessidade de encontrar soluções não “standard” para problemas especiais. Houve também a necessidade de enfrentar eventos excepcionais, alguns de grande impacto na Região. A BETAR nunca falhou e logo que admitiu que pudéssemos estar a ter problemas disse “presente”. Isso é também identificador da postura da empresa.

Esta entrevista é parte integrante da Revista Artes & Letras #144, de Setembro de 2022 

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