01.07.2022

À conversa com Engº Carlos Fernandes

01.07.2022

À conversa com Engº Carlos Fernandes

'Já está a dar os primeiros passos o Plano Nacional de Infraestruturas 20-30 [que prevê] a construção de linhas de Alta Velocidade. [Por outro lado] o património que deixa de ser necessário para a exploração rodoferroviária [está a ser] reabilitado e reutilizado para outros fins'

Fale-nos um pouco da sua formação e início da atividade.

Quando chegou a altura de escolher segui engenharia civil, no perfil de estruturas. O meu primeiro emprego foi no projeto das autoestradas. Gostei da área e candidatei-me ao mestrado em transportes. Surgiu depois a possibilidade de concorrer ao Técnico, como Assistente, e acabei por lecionar lá durante 16 anos. Em 1998 fui adjunto do Secretário de Estado das Obras Públicas, o Prof. Maranha das Neves, e estive essencialmente ligado à área rodoviária. Entre 1999 e 2003 tive uma participação importante nas concessões rodoviárias, designadamente no lançamento das SCUT. Em 2005 ingressei na REFER a convite do Governo. Estive cerca de 7 anos entre a administração da REFER e da RAV. Durante 5 ou 6 anos estive como administrador delegado na RAV, onde coordenei o projeto de Alta Velocidade. Lançámos os primeiros concursos que, com a entrada da Troika, foram cancelados. Fui ainda administrador financeiro na REFER.

Como está o projeto de Alta Velocidade agora?

O projeto de Alta Velocidade está a avançar novamente. Temos um programa de investimento em curso, de cerca de dois mil milhões de euros – Ferrovia 2020 – aprovado em 2015, essencialmente virado para a requalificação da rede ferroviária e para as mercadorias, que cobre cerca de mil quilómetros. E entretanto já está a dar os primeiros passos o novo programa de investimento, que é o Plano Nacional de Infraestruturas 20-30. Está prevista a construção de uma linha de Alta Velocidade entre o Porto e Lisboa e uma primeira fase de uma linha entre o Porto e Vigo. Estamos a finalizar os estudos prévios e antevemos iniciar a avaliação de impacto ambiental no terceiro trimestre deste ano. Ainda em 2023 devem ser lançados os primeiros concursos.

É Vice-Presidente do Conselho de Administração Executivo da Infraestruturas de Portugal (IP). Quais as suas principais funções e desafios?

Na IP sou responsável por várias áreas. Na Direção dos Empreendimentos fazemos a gestão dos grandes projetos rodoviários e ferroviários; a Direção de Circulação Ferroviária assegura a exploração da rede e a circulação dos 1600 comboios; a Direção de Manutenção Ferroviária gere as obras de conservação e beneficiação; a Direção de Engenharia assegura a contratação de projetos e pareceres técnicos, na rede ferroviária e rodoviária; e a área de Planeamento Estratégico planeia e monitoriza os investimentos a longo prazo. Quanto às nossas empresas participadas, a IP Património tem a seu cargo a gestão do cadastro e das expropriações e um trabalho muito importante na requalificação. O património que deixa de ser necessário para a exploração rodoferroviária é colocado no mercado para ser reabilitado e reutilizado para outros fins. Temos várias centenas de quilómetros de antigos canais ferroviários que estão, hoje em dia, a ser utilizados como ciclovias, o que permite preservar o canal e concessionar os edifícios em redor. Temos mais de mil contratos de exploração destes ativos que, nos últimos 4 anos, mobilizaram mais de 40 milhões de euros de investimento, externo à IP. Tivemos, há poucos meses, a abertura do hotel de 5 estrelas em Santa Apolónia, o caso mais conhecido, mas temos dezenas de outros casos de reabilitação de património rodoferroviário, por todo o país. A IP Telecom explora a nossa rede de telecomunicações e os nossos datacenters e coloca no mercado a capacidade excedentária. Temos ainda uma pequena empresa de engenharia que trabalha em projetos complexos da rede ferroviária, para a IP, e também apoia o planeamento estratégico dos PALOP.

De que forma a BETAR se enquadra na estratégia da IP?

Felizmente temos assistido a um renascimento importante da nossa engenharia. Quando o Ferrovia 2020 foi iniciado, sentia-se uma falta muito grande de know-how, de quadros, de capacidade. Entretanto, muitas empresas investiram, reforçaram-se e requalificaram-se. Já estamos a lançar projetos para 20-30 e notamos que há mais “músculo” no mercado. A BETAR trabalha connosco em várias áreas, quer na inspeção, quer no projeto, e está até mais ativa nos concursos e tem ganho alguns. Tem a responsabilidade pelo GOA, o sistema de Gestão das Obras de Arte, que é um dos instrumentos importantes com que trabalhamos. Tem sido um parceiro estável ao longo dos anos, com know-how, com capacidade e que, obviamente, é muito relevante para nós. Que continue e se reforce para nos continuar a ajudar nos desafios futuros.

Como salvaguardam uma atividade sustentável?

A sustentabilidade é algo com que temos sempre muita preocupação. A nossa área de inovação faz projetos de investigação em várias matérias. Preparamos os projetos para que tenham maior resiliência a fatores ambientais como calor extremo ou chuvas fortes. Temos uma preocupação muito grande na avaliação do impacto ambiental, para minimizar ao máximo o impacto das nossas obras, e também no reaproveitamento e reutilização de alguns dos materiais. E temos planos de ação em termos de ruído. Mapeámos todas as nossas redes para identificar os locais com maior ruído e estamos a preparar planos de ação.

Esta entrevista é parte integrante da Revista Artes & Letras #143, de Julho de 2022 

Notícias & Entrevistas

01.10.2019

À conversa com Arq.º Paulo Tormenta Pinto

‘Temos uma preocupação com as ‘invariáveis’ da arquitetura, uma procura por soluções sem tempo que nos remetam para um papel mais anónimo, sem que isso queira dizer perda de erudição disciplinar’ Ler mais

01.11.2015

À conversa com o Arq.º João Góis

‘Tento sempre refletir, nos projetos, a personalidade dos seus donos. Gerir as ansiedades e escolhas dos clientes. Não há melhor satisfação para um arquiteto que sentir que as pessoas vivem as suas casas.’ Ler mais

29.09.2023

Residência Artística

A Residência Artística organizada pela Betar na Quinta de São Lourenço, para os vencedores do Prémio José Mendonça, termina hoje e os artistas produziram várias obras para uma nova mostra de arte. Ler mais

Topo

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência de navegação. Ao continuar a aceder a este website está a concordar com a utilização das mesmas. Para mais informações veja a nossa política de cookies.

Portugal 2020 / Compete 2020 / União Europeia - Fundo Europeu do Desenvolvimento Regional