01.01.2023

À conversa com Engº Melvin Xavier

01.01.2023

À conversa com Engº Melvin Xavier

'Apesar dos recorrentes estragos criados pelos desastres naturais, o setor dos transportes é um dos que tem conseguido manter o rumo ao desenvolvimento, tendo como grande desafio a manutenção das infraestruturas'

Porque escolheu engenharia civil?

Sempre gostei de desenhar e de construir casas de papel e de barro. Enquanto frequentava o ensino secundário, em 2000, a minha cidade natal, Cidade de Chokwé, foi assolada por cheias e muitas infraestruturas sociais foram destruídas. Isso acarretou custos elevadíssimos e afetou a vida da população, pela inoperância dos serviços sociais básicos, sobretudo, sanitários e de educação, mas também de transportes, pois a estrada nacional ficou intransitável. Com o arranque das obras de reconstrução pude assistir a intervenções que me despertaram, mais ainda, a paixão pela Engenharia Civil, por perceber o impacto que a área tem para a vida da sociedade. Também percebi a importância da promoção da construção de infraestruturas civis resilientes, pois grande parte das construções urbanas e rurais destruídas era de construção precária.

Fale-nos sobre o seu percurso.

Sou formado em Engenharia Civil e de Transportes pelo Instituto Superior de Transportes e Comunicações, desde 2010, e Pós Graduado em Engenharia de Petróleos pela faculdade de Engenharia da Universidade Eduardo Mondlane. Em 2009, na sequência do trabalho de conclusão do curso, consegui um estágio académico na empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique – CFM, E.P. Como estagiário, participei na Reabilitação do Complexo Turístico, em Bilene. Após a conclusão do curso, fui contratado pelos CFM para integrar a Direção de Estudos e Projeto de Engenharia, como fiscal de obras. O meu primeiro e marcante trabalho foi a reconstrução de emergência da Ponte da  Linha de Ressano Garcia, em virtude de um acidente ferroviário que culminou na sua ruína total. Esta intervenção levantou questões ao nível da necessidade de intervenções nas Pontes Ferroviárias nos CFM e conduziu a um levantamento da situação das pontes ferroviárias da Linha de Ressano Garcia, e uma na Linha de Goba, através do Laboratório de Engenharia Civil de Portugal e da Mz Betar. A experiência da Mz Betar tem ajudado bastante a superar os desafios que surgem, pela rapidez na sua intervenção e a proposta de soluções têm ido ao encontro das nossas expectativas. De 2013 até ao presente, já foram intervencionadas 9 pontes, desde reabilitação, reforço e substituição, na Linha de Ressano Garcia. Desde 2017 desempenho as funções de coordenador da área de Portos, Pontes e Estruturas Especiais, com a responsabilidade de garantir a prossecução de estudos e projetos ligados a estas áreas.

Que projetos estão a ser desenvolvidos pelos CFM na vertente ferroviária?

Os CFM estão a desenvolver o projeto de duplicação da Linha de Ressano Garcia, que liga o Porto de Maputo à zona fronteiriça da África do Sul, que contempla a construção da segunda via-férrea da Estacão de Matola Gare ao Apeadeiro de Secongene, cerca de 42 km de via nova, a construção de 4 pontes ferroviárias e cerca de 25 passagens hidráulicas. Também estão a proceder à reabilitação da Linha de Machipanda que liga o Porto da Beira à zona fronteiriça do Zimbabwe, com uma extensão de 322 km. Devido aos danos causados pelo ciclone IDAI, que ocorreu no centro do país em 2019, está em curso a reabilitação do cais do terminal de carvão no Porto da Beira e a elaboração o Estudo de Viabilidade Técnica, Económica e Ambiental para Expansão do Terminal de Combustível. Com a necessidade de fazer face à indústria do petróleo e do gás, os CFM estão a elaborar o projeto executivo para expansão do Cais do Porto de Pemba. Têm também estado a investir na aquisição de material circulante, nomeadamente locomotivas e vagões para os sistemas ferroviários Sul e Centro.

Como avalia a evolução da rede de transportes em Moçambique?

Faço uma boa avaliação da evolução da rede de transportes em Moçambique, sobretudo, a rede ferroviária, com as intervenções de Reabilitação da Linha de Sena em 2009, com vista ao transporte de carvão mineral de Moatize ao Porto da Beira, a construção da nova linha férrea de Nacala a Moatize, via Malawi e os trabalhos em curso nas Linha de Ressano Garcia e Machipanda, sob gestão do CFM. Apesar dos recorrentes estragos criados pelos desastres naturais, o setor dos transportes é um dos que tem conseguido manter o rumo ao desenvolvimento, embora tenha como grande desafio a questão da manutenção das infraestruturas que ainda carece de grande investimento. Acredito que com os projetos ferroviários em curso, o tempo de vida das estradas rodoviárias poderá aumentar devido à redução do número de camiões de carga pesada que se espera transferir para a linha férrea. Igualmente, faço votos que o transporte marítimo interno de mercadorias consiga ser viável. Nas grandes cidades tem de se encontrar uma solução a curto prazo para o transporte do metropolitano de passageiros. Nesta senda, os CFM adquiriram automotoras para a região Sul e Centro, que vêm para ajudar o já existente sistema de transporte diário de passageiros nas linhas de Goba, Ressano Garcia e Limpopo e o transporte da Cidade da Beira às Vilas de Moatize e Machipanda.

Esta entrevista é parte integrante da Revista Artes & Letras #148, de Janeiro de 2023 

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