01.12.2020

À conversa com Eng.º António Rocha Cabral

01.12.2020

À conversa com Eng.º António Rocha Cabral

'Do núcleo inicial, resto eu para contar a história da BETAR que foi, desde o início, também um círculo de amigos com ideias afins'

Fale-nos um pouco do seu percurso profissional. Porque escolheu engenharia?

Sempre fui um aluno acima da média, na disciplina de Matemática. Talvez tenha sido essa a razão da escolha da Engenharia. No início da profissão, em 1960, fui funcionário público nos Serviços Hidráulicos, onde efectuava Estudos Hidrológicos. Acumulava este trabalho com a colaboração com os Engs. Jaime Pereira Gomes e Areosa Feio na realização de projectos para os novos Bairros de Olivais Norte e Olivais Sul. O atelier estava desfalcado de um colaborador, o Eng.º Veiga de Oliveira, que tinha emigrado para o Brasil por razões políticas. Aí trabalhei, acumulando com a função pública, até 1963. Nesse ano o Governo Francês concedeu-me uma bolsa para tirar um curso no C.H.E.B.A.P., em Paris. Nessa altura já trabalhava também no mesmo atelier o Eng.º José Mendonça. Terminado o curso foi-me solicitado, pela direcção dos Serviços Hidráulicos, que me demitisse, porque tinham informação da P.I.D.E. que eu era pessoa não aconselhável para funcionário público. Fui trabalhar para a empresa EMPEC, onde realizei projectos de Betão Pré-Esforçado e acompanhei as obras em curso: pontes, barragens e o tosco da Fundação Gulbenkian. Mantive-me, no entanto, ligado ao atelier do Eng.º Pereira Gomes, participando nos projectos do atelier do Arq.º Conceição Silva. Mais tarde fui convidado por ele para desempenhar, na sua empresa, as funções de Director do Sector de Engenharia e, depois, ser um dos administradores do atelier e de uma empresa de construção, da qual o arquitecto era sócio, formada para construir a Urbanização de Tróia. As novas funções obrigaram-me a desligar-me do atelier do Eng.º Pereira Gomes e da EMPEC. Mais ou menos nessa altura foi fundada a BETAR, pela persistência e determinação do José Mendonça. Com o colapso das empresas do Arq.º Conceição Silva, em 1975, fui convidado pelo José Mendonça para voltar para o atelier, agora designado BETAR e que teve como sócios iniciais o Eng.º José Mendonça, o Eng.º Pereira Gomes e o Eng.º Veiga de Oliveira. Eu fui substituir o Eng.º Veiga Oliveira, então Ministro das Obras Públicas. Mais tarde o Eng.º Veiga voltou e passámos a ser os quatro à frente dos destinos da BETAR. Daí para a frente a empresa não deixou de crescer, com novos colaboradores que foram sendo chamados a responsabilidades cada vez maiores na gestão. Faleceu o Eng.º Pereira Gomes. Em 2001, reformámo-nos, o Mendonça e eu, deixando bem entregue a empresa. Faleceram já o Veiga de Oliveira e o Mendonça e, do núcleo inicial, resto eu para contar a história da BETAR que foi, desde o início, também um círculo de amigos com ideias afins. Com a nossa reforma as empresas não deixaram de crescer e afirmarem-se. Na crise de 2008 mostraram-se resilientes. O mesmo irá ocorrer nestes tempos de pandemia.

Quais eram as suas principais responsabilidades na BETAR?

Entrei para sócio da BETAR em 1975, embora colaborasse com o atelier inicial desde 1960. Na Betar Estudos fui administrador e projectista. Para além dessa actividade estabeleci ligações com a COBA e com o Eng.º Câncio Martins, uma colaboração que nos permitiu realizar projectos de pontes para os troços de Auto-Estrada, Aveiras de Cima-Santarém, Santarém-Torres Novas, Coimbra-Mealhada e Albergaria-Estarreja. Importantes foram também as condições criadas para a realização dos projectos dos Túneis do Campo Grande e da Av.ª João XXI para a C.M.L. Estas experiências foram determinantes para a futura criação da Betar Consultores, onde fui um dos sócios e administrador.

Que momentos destacaria da sua longa carreira?

Os momentos mais importantes da minha carreira foram a colaboração nas obras da Gulbenkian (Museu, Exposições Temporárias e Centro de Arte Moderna), intervenções em projectos para as Barragens do Douro e Plano de Rega do Alentejo, o ter pertencido ao atelier do Arq.º Conceição e à empresa que construiu Tróia, e posteriormente, ter ajudado a desenvolver a Betar Estudos e a criar a Betar Consultores. Os maiores desafios dos Gabinetes de Engenharia, a partir dos anos 60, foram a passagem para o cálculo e desenho por computador. O primeiro projecto em que o Cálculo Sísmico foi realizado por computador foi o dos edifícios de maior porte do cruzamento da Av. dos Estados Unidos da América com a Av. de Roma, em Lisboa. Isto passou-se em 1963, tendo-se recorrido ao programa do L.N.E.C. Na altura era uma novidade a que não muitos projectistas tinham recorrido. Depois a BETAR acompanhou a evolução do sector, com equipamentos e conhecimento. A passagem do desenho em prancheta para o desenho por computador foi mais complexa. Inicialmente ligámo-nos a um atelier de desenho por computador que trabalhou nas nossas instalações. Depois foi um lento trabalho de adaptar os desenhadores mais novos aos programas. E, em poucos anos, passou-se de uma sala de desenho manual a uma sala de desenho integralmente por computador.

Com base na sua vasta experiência, que conselhos daria hoje a um jovem engenheiro?

“Todo o mundo é composto de mudança” como dizia Camões. A Engenharia também. O jovem engenheiro tem de pensar que, desde a formatura à reforma, não vai parar de se formar. Se o fizer, o esforço valeu a pena. Pode relaxar, depois, na reforma.

Esta entrevista é parte integrante da Revista Artes & Letras #125, de Dezembro de 2020

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