À conversa com Eng.ª Elisabete Portalegre

À conversa com Eng.ª Elisabete Portalegre
‘Gostaria que o nosso trabalho, que não nos pertence, se congratulasse, servisse, perdurasse e continuasse a contribuir para um imaginário real, empenhado na construção definitiva de uma cidade cada vez melhor’
Fale-nos um pouco do seu percurso profissional. Como chegou à direcção Municipal de Manutenção e Conservação do Departamento de Infraestruturas e Obras de Arte da CM de Lisboa?
Entrei para a CML em Fevereiro de 1988, para o então Gabinete Técnico de Habitação (GTH), que foi para mim, e para todos os profissionais que nele trabalharam, uma grande escola. Nesse gabinete, que foi criado essencialmente para erradicar as chamadas “barracas” em Lisboa, construindo habitação social, para além de trabalharmos com grandes nomes da arquitectura e urbanismo da época, fazíamos todos os projectos e obras desde o papel em branco à chave na mão. Estive no GTH até Janeiro de 2006 (ou seja, até á conclusão do programa de realojamento) ano em que vim para Direcção Municipal de Manutenção e Conservação (DMMC), que na altura era a Direcção Municipal de Projectos e Obras, da qual saí em Janeiro de 2011 para outros desafios, nomeadamente, um ano na Parque Escolar e seis anos como Directora do Departamento de Gestão da Mobilidade e Tráfego, regressando à DMMC desta vez, também com as competências das Obras de Arte, para além de outras que já tinha tido neste departamento.
Quais são as suas principais responsabilidades e funções neste cargo?
Para além da gestão e manutenção das obras de arte rodoviárias da cidade, o departamento tem ainda, para além de muitas outras, a competência da elaboração de projectos, da coordenação e fiscalização das obras, a construção, conservação, recuperação e reparação de infraestruturas viárias, vias pedonais e cicláveis e equipamentos de apoio aos transportes. Elaboramos ainda pareceres e aprovações, de todos projectos de infraestruturas de obras promovidas por empresas públicas, privadas e pelo Estado e a fiscalização e recepção das respectivas obras. Asseguramos também a construção, reconstrução, reparação e demolição de muros de suporte e vedações, bem como a consolidação de escarpas, em propriedade municipal.
Que argumentos mais pesam na hora de tomar decisões, por forma a salvaguardar as situações mais prioritárias de conservação das infraestruturas?
Essencialmente a segurança das pessoas e bens e também a segurança rodoviária. Tentamos actuar sempre com essa missão.
Quais os maiores problemas com que se debate no seu dia-a-dia?
Temos poucos recursos humanos para a quantidade de assuntos, problemas e procedimentos que temos em mãos. E os que temos estão a atingir a idade da reforma. Gostaria muito que os engenheiros que trabalham actualmente connosco tivessem oportunidade de passar todo o conhecimento e experiência aos mais novos que espero que venham integrar a nossa equipa brevemente.
Que balanço faz dos últimos anos no âmbito da manutenção das infraestruturas e obras de arte?
Há uns anos que estamos a investir nesta área, nomeadamente na manutenção e reforço estrutural das obras de arte. É um trabalho de uma grande invisibilidade presente, mas de uma grande visibilidade futura. Estamos a fazê-lo paulatinamente com os recursos que temos, ambicionando mesmo assim fazer sempre mais e melhor.
Que projectos mais relevantes estão agora em curso ou prestes a serem iniciados?
No âmbito das obras de arte rodoviárias temos em curso as obras de reabilitação geral dos viadutos de Pedrouços e da Av. Columbano Bordalo Pinheiro. Temos em projecto a reabilitação dos viadutos do Rego. E temos em vista a reabilitação de todos os viadutos, túneis, passagens inferiores e superiores da cidade, como referi anteriormente, paulatinamente com os recursos que temos. Nas infraestruturas rodoviárias, continuamos a apostar nos projectos no âmbito do projecto “uma Praça em Cada Bairro” e do “Pavimentar Lisboa”, projectos esses que, como já é visível em muitas zonas da cidade, irão produzir um aumento das áreas pedonais e de estadia, das zonas verdes, rede de ciclovia, instalação de novo mobiliário urbano e mais iluminação pública.
O que gostaria de ver feito daqui a dez anos neste sector?
No cumprimento do nosso desígnio, gostaríamos de ter todas as obras de arte da cidade de Lisboa reabilitadas e que conseguíssemos ter implementado um sistema que nos permita ter uma actuação mais proactiva. Gostaria de ter este sistema tanto para as obras de arte como para as outras áreas da competência do departamento. No fundo, o que gostaria era que o nosso trabalho, que não nos pertence, se congratulasse, servisse, perdurasse e continuasse a contribuir para um imaginário real empenhado na construção definitiva de uma cidade cada vez melhor, Lisboa.
Esta entrevista é parte integrante da Revista Artes & Letras #117, de Março de 2020
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