01.04.2020

À conversa com Eng.º Tarik Chaaban

01.04.2020

À conversa com Eng.º Tarik Chaaban

‘No Malawi, as intervenções nos trechos norte e sul foram os primeiros investimentos após várias décadas sem qualquer manutenção significativa dessas linhas ferroviárias’

Fale-nos um pouco do seu percurso profissional. Como chegou à direcção da Central East African Railways (CEAR)?

Eu sou engenheiro electrotécnico de formação, com MBI em Gestão de Projectos. Neste momento, sou responsável por toda a engenharia da carga geral da Nacala Logistics, não só da CEAR. Estou agora no Malawi mas, falando um pouco do meu percurso, já tenho 22 anos de empresas ferroviárias, maioritariamente no campo da logística e em algumas das maiores operadoras do Brasil, como as do grupo Vale, tendo ocupado várias posições desde que comecei a carreira, desde posições técnicas a gestão administrativa. Há quatro anos aceitei o desafio para sair do Brasil, inicialmente para Moçambique, como gerente de engenharia do corredor das operações de carvão e, há quase um ano, mudei para operações de carga geral.

Em que estado se encontravam as estruturas?

No caso do Malawi, nos trechos norte e sul, que têm aproximadamente 600km, já há algumas décadas que não haviam sido feitas as intervenções necessárias. De há uns 3 anos para cá, o corredor logístico da Nacala, através de toda uma engenharia financeira, feita pelos sócios, fez umas recuperações, tanto num trecho como no outro, com finalidades diferentes. Foram os primeiros investimentos após várias décadas sem qualquer intervenção significativa no sentido da manutenção desses troços de linhas.

Quais são os maiores aliciantes deste desafio?

Os maiores desafios são sobretudo as dezenas de pontes, na minha opinião. Dependendo de cada secção das linhas, tivemos de estudar soluções diferentes. Ao mesmo tempo que estamos a recuperar e revitalizar boa parte dos troços ferroviários, estamos também com trabalhos de recuperação das pontes, o que inclui uma avaliação com a própria BETAR para verificar se, dentro da configuração original das pontes, é possível suportar cargas maiores, para ver se é possível adquirir novas locomotivas, com maior capacidade. É uma avaliação muito importante para poder viabilizar essa aquisição.

Quais são as suas principais responsabilidades e funções neste cargo?

Em relação aos projectos vigentes, tanto no Malawi como em Moçambique, sou o responsável máximo por todos eles e as minhas responsabilidades vão desde a aquisição de locomotivas e reforma de vagões da carga geral, até recuperações de toda a natureza, sejam instalações de aquedutos e canais hídricos, por causa do grande fluxo de água no período das chuvas, ou este grande projecto no trecho norte, que passa pela revitalização completa das linhas, que são mais de 300km.

Quais os maiores problemas com que se debate no seu dia-a-dia?

Pelo facto de estarmos em África enfrentamos problemas peculiares e específicos daqui, sobretudo questões culturais e de comunicação. Ainda por cima estamos em dois países e por isso há um bloqueio significativo em relação à língua e existem os próprios dialectos locais que agravam mais a situação. Estes são os maiores desafios, mas depois há tudo o resto associado a um continente de terceiro mundo, há muitas restrições em relação a prestadores de serviços, timings de entregas de produtos… são desafios de diferentes naturezas que acabamos por ter de enfrentar por nos encontrarmos nestas frentes.

Como chegaram até à BETAR e porquê a escolha?

Conhecemos a BETAR através de um dos nossos engenheiros, numa prestação de serviço para um outro parceiro que temos, que é a Mota-Engil. A BETAR foi identificada devido a essa prestação de serviços, muito boa, que fez à Mota-Engil. Como tínhamos uma série de infra-estruturas da mesma natureza, uma série de pontes com necessidade de intervenção, decidimos procurar a BETAR para nos ajudar nas diferentes frentes que tínhamos, como avaliações, especificações, acompanhamento e fiscalização de obras, desde recuperações até substituições. Temos uma ponte muito grande, com mais de 100 metros, que é a ponte do Shire, que foi projectada e fiscalizada pela BETAR. A BETAR é uma grande parceira e, neste caso, a obra tem sido muito bem acompanhada, desde o projecto até à execução. Estamos muito satisfeitos com esta prestação de serviço em particular, mas também com todas as fiscalizações nas diversas obras ferroviárias em que estão envolvidos.

O que é que ainda falta fazer no Malawi ao nível de infra-estruturas fundamentais?

Para além dos projectos de recuperação dos trechos norte e sul, temos um projecto que a BETAR também fiscaliza, que é a construção de um parque de contentores. Acreditamos que com estes projectos a nossa área comercial consiga alavancar outros, nos próximos anos, outras frentes de recuperações, sobretudo mais pontes. Temos de viabilizar investimentos para recuperar outras infra-estruturas nos próximos anos.

E em Moçambique?

Em Moçambique temos um foco um pouco diferente porque temos o corredor do carvão e temos que nos focar no plano de chuvas, designadamente construções hídricas. Temos também duas pontes com necessidade de monitorização que neste momento não têm previsão de investimento para recuperação.

Esta entrevista é parte integrante da Revista Artes & Letras #118, de Abril de 2020

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